Veterinários condenam aula na RTP que os acusa de torturarem animais nos canis



Os médicos veterinários estão indignados com a transmissão de um episódio do Estudo em Casa. Na aula televisiva, destinada a alunos do 7º ao 9º anos, diz-se que os veterinários municipais matam animais a tiro, ao pontapé e com choques elétricos














“Nos canis municipais, destino dos animais sem dono, há de tudo. Os rafeiros e os de raça. Os recém-nascidos e os velhos. (…) Hoje, solitários e confusos, partilham um ambiente de doenças e cheiros nauseabundos. Chegados ao corredor da morte, quantas vezes levados pelos próprios donos, outras capturados nas ruas. O pior que pode acontecer é serem mortos a tiro, por afogamento, envenenamento, sufocação, enforcamento, à facada, ao pontapé ou à paulada, com choques elétricos…” Este texto, lido a 23 de novembro, na RTP, na aula de Cidadania e Desenvolvimento do 7º ao 9º anos, no âmbito do projeto Estudo em Casa, deixou os veterinários furiosos.

Em comunicado, a Ordem dos Médicos Veterinários (OMV) diz tratar-se de “um ato de de difamação e de atentado à imagem e à dignidade do Médico Veterinário”. “A OMV condena veementemente o enfoque do programa na divulgação de um texto de 2005 sobre os animais em canis municipais intitulado Fim da Linha, que de forma descontextualizada, denigre o importante papel desempenhado pelos médicos veterinários na proteção dos direitos dos animais, e no seu reconhecimento como seres sensíveis pelo Tratado de Lisboa. De uma forma sensacionalista, descreve a prática de actos de crueldade chegando a insinuar a sua generalização nos municípios portugueses/Centros de Recolha Oficiais. Consideramos que a educação dos nossos jovens não se faz com pérfidas e infundadas acusações, com mau jornalismo ou com calúnias, mas com a apresentação de factos.”

A OMV acrescenta que “repudia a abordagem utilizada, considerando que não só contraria os objetivos da literacia animal que deve ser promovida nas escolas, como vem denegrir a reputação do Médico-Veterinário, causando uma perceção negativa, distorcida e manipuladora junto dos estudantes, da comunidade educativa e da sociedade como um todo.”

À VISÃO, o bastonário da OMV apelida o texto de “irrealista e desajustado da realidade, para usar um termo suave”. “É um projeto educativo com efeito contrário: deseducou”, diz Jorge Cid. “Aquilo não é o que se passa no terreno. Os médicos veterinários fazem das tripas coração para dar o melhor possível aos animais com os parcos meios que têm. É difícil, mas fazem o que podem. Dizer o contrário é distorcer a realidade.”

Disciplina com “carga ideológica”


O texto em causa foi publicado originalmente na revista Única, do Expresso, em 2005. “A escolha deste texto é completamente descabida. A realidade descrita no texto nunca existiu”, diz Ricardo Lobo, presidente da direção da Associação dos Veterinários dos Municípios (ANVETEM), acrescentando que a associação que dirige já fez uma queixa formal à Direção-Geral da Educação. “Parece premeditada a intenção de criar nos alunos uma suspeição sobre as autoridades e os veterinários municipais.” E a questão não se esgota na leitura do texto, afirma. “Depois, a professora ainda reforça com as perguntas: ‘Onde é que isto acontece? No canil municipal. Descrição desse lugar? Um ambiente de doenças e cheiros nauseabundos.'”

O problema, continua Ricardo Lobo, “é toda a aula e o tom que lhe é impresso”. “Esta é uma disciplina sujeita à subjetividade e à carga ideológica de quem a vai ministrar. No programa da disciplina não vejo mal nenhum, mas depois acontece isto. Como é que o Ministério da Educação deixa passar uma aula daquelas?” O representante dos veterinários municipais dá outro exemplo: “A professora faz uma enfabulação com um ratinho que foge do laboratório, até infantilizando alunos que já estão no 7º, 8º ou 9º anos, e diabolizando a experimentação animal, sem contexto, sem dizer que é necessária na investigação médica, para criar vacinas e tratamentos contra o cancro. Não acredito, aliás, que o ministro da Educação se sinta confortável com isto, sendo ele uma pessoa que trabalhou vários anos na área da investigação.”



Vê isto...

Os comentários publicados através deste sistema são de exclusiva e integral responsabilidade e autoria dos leitores que dele fizerem uso. A administração deste site reserva-se, desde já, no direito de excluir comentários e textos que julgar ofensivos, difamatórios, caluniosos, preconceituosos ou de alguma forma prejudiciais a terceiros. Textos de caráter promocional ou inseridos no sistema sem a devida identificação do seu autor (nome completo e endereço válido de email) também poderão ser excluídos.

Postagem Anterior Próxima Postagem
-->