DGEstE alerta que regime deve ser excecional pelos custos ambientais e financeiros, pois as embalagens são pagas à parte. Se as cantinas tiverem condições, devem servir os almoços.
O Ministério da Educação põe travão às refeições em takeaway nas escolas. A opção generalizou-se, mesmo nos estabelecimentos que dispõem de refeitórios com dimensão suficiente para o fornecimento de almoços por turnos, o que motivou queixas de muitos pais e, nalguns locais, promoveu o ajuntamento de alunos, em vez do desejado afastamento para prevenir contágios.
O que era exceção tornou-se regra, sobretudo nas escolas dos centros urbanos e do litoral. Face aos constrangimentos trazidos pela pandemia, muitas escolas, mesmo tendo refeitórios espaçosos, arrancaram o ano letivo com a modalidade única do takeaway. Quase duas semanas depois do início das aulas e confrontada com pedidos de associações de pais para o fornecimento dos almoços nas escolas, a Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE) fez um ponto de ordem e enviou uma diretiva a todos os agrupamentos e às escolas não agrupadas deixando claro que o regime de takeaway é "excecional", poderá ser "adotado apenas nos refeitórios em que o serviço de fornecimento normal de refeições não seja, de todo, viável" e é obrigatória a consulta aos encarregados de educação. A generalidade dos estabelecimentos de ensino assumiu essa modalidade sem ouvir os pais.
"A opção pelo takeaway deve ser equacionada, ouvindo os encarregados de educação, e não assumida unilateralmente pela escola", adverte a DGEstE, na orientação a que o JN teve acesso, assinalando os riscos e os "elevados custos ambientais e financeiros".
Sem local e sem talheres
Os almoços são acondicionados em embalagens de plástico, que têm de ser pagas à parte pelo Estado e que são abandonadas "em locais não adequados". Há, também, o risco de deterioração da refeição ao ser consumida muito tempo depois de ter sido confecionada. Outro risco que a experiência dos primeiros dias de aulas revelou é a falta de controlo sobre as condições em que será consumida.
"Os alunos podem sair da escola e ir comer todos juntos para um local público", alerta ainda. Muitos estudantes não tinham onde comer a refeição e acabavam por consumi-la noutros espaços da escola ou na rua. Alguns ATL recusam o consumo da refeição escolar nas suas instalações.
"A refeição servida na cantina terá mais qualidade. O takeaway não tinha as melhores condições e, em alguns casos, nem sequer eram fornecidos os talheres", conta Jorge Ascenção, presidente da Confederação das Associações de Pais. Boa parte das escolas já está a abandonar o takeaway, recorrendo a horários desfasados ou criando novos espaços para as refeições.
Pais preferem almoços fornecidos nos refeitórios
Os pais preferem que as refeições sejam servidas nas cantinas das escolas, desde que possam ser cumpridas as regras de distanciamento entre os alunos. O presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, Jorge Ascenção, entende que "houve a tentação por parte das escolas de optar pela solução mais fácil, que foi o recurso ao takeaway". Também Rui Martins, da Confederação de Pais e Encarregados de Educação, concorda que, "havendo condições nas cantinas, é sempre preferível que o almoço seja servido nas escolas, porque muitas crianças não têm os pais em casa".
Menos refeições
Com a reorganização dos horários (muitos alunos só têm aulas de manhã ou de tarde), o número de refeições baixou significativamente, diz Filinto Lima. O presidente da Associação de Diretores de Escolas Públicas reconhece que, com menos alunos a almoçar, muitas escolas não precisam de manter o takeaway. O JN questionou o Ministério da Educação sobre quantas refeições foram servidas em takeaway, mas os dados do mês não estão fechados.
Horário alargado
Nas escolas do interior, onde os alunos estão mais tempo, a solução mais adotada foi alargar o horário de fornecimento das refeições, diz Manuel Pereira, da Associação Nacional de Dirigentes Escolares.